Monday, October 27, 2008

quantum vacuum fluctuations...

Há um estado no qual me gosto de submergir com frequência. Olhar para o infinito (ou para o finito) e não dirigir os pensamentos. Diz-se por aí que isto é "não pensar em nada", e até que os homens passam mais tempo neste estado do que as mulheres.

Posso eventualmente concordar com a segunda afirmação, mas a primeira, se bem que é apenas uma designação, induz em erro. Passo a explicar...

Parto do princípio que não sou nada de especial. Pelo menos não mais especial do que a média da população. Estatísticamente faz sentido (aplicado ao Universo, isto é uma expressão do chamado Princípio Cosmológico, introduzido por Einstein). Sendo assim, tomo a liberdade de generalizar a minha experiência pessoal quando estou nessa zona de 'não pensamento' ou váquo. Tem isto em conta ao leres o que se segue.

O pensamento está claramente dividido em camadas. A primeira camada é consciente, acessivel à minha manipulação e composta por varios tipos de imagéticas diferentes (visual, sonora, linguística, musical, matemática, etc...). Existe uma segunda camada que não me está acessível directamente. Parece que os sentimentos associados ao que está ser processado nessa camada estão acessíveis, mas o seu conteúdo não, salvo partes que surgem como que do nada (a la flutuações quânticas de vácuo), essas, sim, plenamente acessíveis. Esta distinção é tanto mais clara quanto mais cansado estiver, já que sinto perfeitamente que a camada consciente é mais exigente energéticamente.

Gosto de estar nessa zona de váquo, simplesmente a contemplar as flutuações que de lá surgem. É bom realçar que esta segunda camada não está isolada dos estimulos externos. O que vejo (ou antes, aquilo para que olho), o que ouço, sinto... influencia o que está por lá a ser processado e que tipo de flutuações me são disponibilizadas.

Com base em artigos que li há tempo demais para me lembrar da referência, diria que os estímulos externos são usados como sementes da criatividade, fomentando associações brilhantes que muitas vezes escapam ao pensamento 'lógico'.

Existe outro detalhe fulcral. É nesses momentos que são resolvidos problemas que me têm ocupado a mente, seja qual for a sua natureza. Não é quando estou a remoer neles. Raramente é. Sinto claramente que, sendo físico, estou sempre a procurar padrões, a fazer associações, a ver a beleza das simetrias, mesmo as que só são evidentes em espaços de fase. Sendo a matemática a lingua do universo, sem ela as pessoas acham absurdas afirmações como "a Relatividade Geral é um extremo exercício de beleza e elegância", mas não conseguem diminuir a sua veracidade.

Claro que é importante esse 'remoer' na primeira camada, consciente, para garantir que a segunda camada, inconsciente, tem matéria prima para desenvolver as ideias.

Arquimedes estava nessa zona de váquo quando gritou EUREKA, na banheira. Einstein estava nessa fase quando, com o seu amigo num café, compreendeu o princípio da relatividade que motivou a teoria da Relatividade Restrita.

Enfim, essa zona de váquo é um motor da criatividade humana, na minha perspectiva. É tudo menos 'pensar em nada'. Sou físico. Não posso desligar isso. Estou sempre com um pé no espaço físico e outro nalgum desses espaços de fase. Ainda bem que essa zona de váquo é um bom sítio para se estar....


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